O Bull-Market do dólar nos coloca de volta à "tempestade perfeita" ?

Publicado 06.03.2017, 14:47
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Poucos dias antes do Índice Bovespa tocar a faixa de 37.000 pontos, fundo do ano passado, escrevi um artigo onde destacava 4 períodos de Bear-Market nos mercados acionários brasileiros.

Pra ser mais exato, o índice tocava os 38.000 pontos e eu procurava identificar o que o passado poderia nos ajudar pra vislumbrar os próximos movimentos. Quando destacava 4 Bear-Markets, incluía o atual; por enquanto, o período em que o Bovespa tocou a faixa de 44.000 pontos em dólar, e mergulhou até a faixa de 9.000 pontos em dólar, fundo em 37.000 pontos tocado ano passado.

Estamos andando já pela faixa de 22.000 pontos em dólar, depois de ter batido em 22.800 em fevereiro último. Lá em janeiro de 2016, alertava para a o tamanho de 80% de queda, desde o topo, para 2 dos 3 Bear-Markets passados.

Isto é, em 2 dos 3 Bear-Markets, o Bovespa havia caído em dólar 80% aproximadamente desde o seu topo; apenas no Bear-Market de "1986-1991", a queda atingiu 90% Em janeiro, a queda, desde o topo em 44.600 de maio de 2008, havia somado 79%.

Ora, dizia eu:

"Para os mais otimistas, estamos muito próximos do fim do Bear-Market"
"Para os mais pessimistas, como eu, ainda temos espaço para mais quedas"

Sim...79% era próximo de 80%...olhado o passado, ou o Bear Market termina mais próximo de 80% ou de 90% de queda...

Outros diriam...ou entre 80% e 90% de queda.

OK...

O Bovespa caiu apenas mais 1.000 pontos, e foi aos 37.000...

Se cravarmos que o final do atual Bear-Market foi ali, teremos um total de 79,8% de queda desde o topo de 44.600.

Por outro lado, olhar o passado e dimensionar o movimento e a dinâmica da reversão passa a ser uma tarefa, num primeiro momento, muito mais árdua.

O que quero dizer?

Ora...não teremos "zigue-zague" até pelo menos o topo de 44.600?

Os mercados irão direto até os 44.600 ou "sofreremos mais ", com mais volatilidade, e novas pernas fortes de baixa, até que cheguemos, numa data distante, lá nos 44.600 novamente? E o "quanto mais" será esse sofrimento?

É isso que estou tentando entender e ilustrar. O que o mercado não nos conta? O que o mercado sabe e não nos fala? O que o mercado não sabe porque não estudou? Até onde podemos ir pra não ficarmos na escuridão do "disse-me-disse"?

Quando falamos do fundo de um Bear-Market, parece mais fácil reduzir o pensamento em 40-50 páginas. O contrário, é muito mais difícil.....impossível colocar em apenas 40-50 páginas.

Assim, precisamos falar...e colar...e sobrepor...e misturar os dados...ligar os pontos.

Ao longo dos últimos 2-3 anos, muito se falou em "tempestade perfeita" para o Brasil. Depois de mais de 100% de alta em dólar no período de 1 ano, podemos dizer que a "tempestade perfeita" foi embora?

O que passo a focar a partir desse estágio é a trajetória do dólar frente a uma cesta de moedas nos últimos 50 anos, o chamado "índice dólar". A cesta é distribuída pelas principais moedas do mundo, a saber, Euro, Libra Esterlina, Franco Suiço, Iene japonês, Dólar Canadense e Coroa Sueca, com os maiores pesos para o Euro, Libra e Iene.

O gráfico abaixo nos mostra claramente 3 movimentos de Bull-Market nos últimos 50 anos. O primeiro corresponde ao período 1978-1985; o segundo, ao período 1995-2002. O terceiro é o atual.

O atual, alguns podem questionar, a partir do momento em que a faixa principal a ser rompida não é a de 100,00, e sim 105. Eu discordo.

Vejam a LTB Longa rompida; mais, quando partimos para um período mais curto, de 10 anos por exemplo. o movimento altista é muito forte....Reparem no segundo gráfico abajxo, tempo semanal, o rompimento de uma congestão, dentro de um canal de alta, e o pullback nos últimos dias, e posterior reversão para cima, em busca de novos topos.

Índice Dólar, período 50 anos

Índice Dólar

Índice Dolar, Semanal, escala logarítmica, período 10 anos

Cash

O que faz o dólar se fortalecer frente a todas as moedas? Taxas de juros? Fuga de capitais? Reversões nas direções dos fluxos? Crises? Que tipo de crise? Crises vindas de onde?

São várias as perguntas....Onde começa "tudo"? Quando começa "tudo"? Por que começa "tudo?

Voltem para cima...

Porque o Dólar sobe na Crise do Subprime, mas não o suficiente para reverter o Bear-Market de então? Não podemos explicar tudo, mas quando olhamos em retrospecto, algumas questões ficam claras.

E elas estão ligadas aparentemente por reversões de fluxo. Para melhorarmos nossas percepções, vamos incluir a evolução dos títulos de 10 anos do Tesouro Americano, também num período de 50 anos.


Títulos de 10 anos do Tesouro Americano, Período 50 anos

Gráfico

É mediamente claro que a evolução das taxas de juros americanas, aqui espelhada pelos títulos de 10 anos do Tesouro Americano, interferem no fluxo em direção ao dólar. Mas, vejam...não parecem determinantes...

No primeiro Bull-Maket, período 1978-1985, o dólar avança junto com as taxas de juros, mas no segundo Bull-Market, período 1995-2002, as taxas continuam caindo, ainda que em sobressaltos.

Vamos pensar. Nos anos 70, a imensa liquidez que alimentou os países latino-americanos, na forma de empréstimos públicos, tomou um profundo baque com o Choque do Petróleo, a pressão inflacionária americana e a posterior alta dos juros americanos. A correia que alimentou o dólar não parece vir exclusivamente das taxas de juros, parece vir do "elemento risco" associado a extrema alavancagem dos países latino-americanos.

O sistema, que era estável, passa a ser instável, e redireciona os fluxos dos paises latino-americanos para os ativos "em dólar". O reflexo e prova vêm na forma dos calotes; os mais evidentes foram a moratória do México em 1982 e do Brasil em 1987...o México voltaria a ter Crise Cambial em 1994.

O segundo Bull-Market é muito claro nesse sentido. Vemos a trajetória altista do dólar de 1995 a 2002. Fica claro que os players percebem que, novamente, o sistema passa de uma "estabilidade" para uma "instabilidade". A quebra da Libra esterlina em 1992, cujo ápice foi o ganho de US$ bilhão de George Soros quando apostou contra a Libra, foi apenas o primeiro sinal.

O segundo veio com a Crise do México em 1994. Dali em diante, a força do dólar só aumenta. No meio do seu Bull-Market, o sistema parece entrar em colapso; temos a Crise Financeira Asiática em 1997, a quebra do fundo LTCM em 1998, a Crise da Rússia em 1998, e a mudança do sistema cambial brasileiro de "flutuante sujo (quase fixo)" para flutuante em 1999.

Portanto, a força do dólar nos períodos "78-85" e "95-2002" parece não estar ligado umbilicalmente às taxas de juros, e sim a uma instabilidade gerada no "próprio sistema".

Chegamos aos anos 2000...

Atual Bull-Market do dólar visto no terceiro retângulo destacado acima.

O que está alimentando-o? Ora...se o sistema passou de "estável" para "instável", ondo está a instabilidade? Pra não tornar o texto extenso demais, reduzamos ao quadro brasileiro. Se essa força se mantiver nos próximos meses , o que pode dar errado? O que estou vendo e outros não estão?

Abaixo, temos o raio-x da Dívida Externa Brasileira nos últimos 35 anos. A linha vermelha corresponde a dívida externa brasileira do setor público. A Linha azul corresponde a Dívida Externa Brasileira do setor privado.

Dívida externa brasileira (em vermelho, dívida externa setor público, em azul, dívida externa setor privado)

Dívida Externa Brasileira

Fonte: Banco Central do Brasil

Percentual de Provisões em relação a carteira de crédito do Sistema Financeiro, período 20 anos

Percentual de provisões

Fonte: Banco Central do Brasil

A força do dólar nos anos 80 empurrou o Brasil para o abismo, já que o alto endividamento público provou-se insustentável diante da dinâmica altista do dólar. O fundo do poço foi o pedido de Moratória decretado pelo Brasil em 1987.

No período 1995-2002, a força do dólar não só empurrou o Brasil para a mudança do câmbio, como empurrou o setor privado para um "calote sem precedentes", dado seu alto endividamento em dólar (o quadro acima mostra o ponto a que chegaram as "provisões" no final dos anos 90) .Reparem que já no final de 1997, o perfil de nossa dívida externa muda; o setor privado, ao estabilizar na faixa de 130 bilhões de dólares de endividamento, supera o setor publico.

Estamos andando...

E como isso se misturou ao mercado acionário?

Acrescentei ao gráfico do "índice dólar", o nosso Bovespa para visualizarmos melhor

Índice Dólar, período 50 anos, com os 4 Bear-Markets brasileiros

Índice Dólar 50 anos

Aqui, é o ponto final; é onde podemos ver na "prática", o que tal variável, o dólar, pode fazer para o Bovespa.

4 Bear-Markets do Bovespa

1971-1983
1986-1991
1997-2002
2008-Atual

3 Bull-Markets do dólar :

1978-1985
1995-2002
2011- Atual

Os 3 Bull-Markets do dólar estão misturados com os Bear-Markets brasileiros. Apenas o Bear-Market de 1986-1991, não. Assim mesmo, podemos dizer que, como a moratória brasileira foi decretada em 1987, em certa parte, aquele Bull-Market do dólar de 1978-1985 impactou no Bear-Market brasileiro de 86-91; no entanto, não esqueçamos que tivemos nesse período também uma "meio moratória interna", no período Collor .

Se olhamos o Bovespa por essa ótica, o Bovespa não finaliza o seu atual Bear-Market até o término do Bull-Market do dólar.

Sim...mas até que ponto? Qual a dinâmica? Qual a volatilidade?

Digamos que o mais dífícil é chegar nesse ponto.

Pelo menos temos uma foto....um raio-x de uma grande figura macro.Daqui em diante, é discutir como desarmar as bombas e o que pode vir pela frente?

2 aperitivos. 2 gráficos.

O primeiro, o gráfico do "dólar x real", e uma LTA vista abaixo. Se aceitamos que o dólar se fortalece perante outras moedas, por que não se fortaleceria frente a uma moeda entre os "emergentes".

Dólar x Real, semanal, escala logarítmica, período 7 anos

Dólar x Real

Segundo aperitivo

Voltemos ao quadro do perfil atual da Dívida Externa Brasileira.

Dívida externa brasileira (em vermelho, dívida externa setor público, em azul, dívida externa setor privado)

Dívida Externa

Fonte: Banco Central do Brasil

Vejam em que estágio está a divida do setor privado brasileiro. Faixa de 210 bilhões de dólares, quase o dobro do estágio do final dos anos 90, quando o sistema financeiro se deparou com Crise da Ásia, quebra do LTCM, Crise da Rússia e mudança de câmbio.

E as provisões do sistema financeiro?

Vamos recolocar o quadro.

Percentual de Provisões em relação a carteira de crédito do Sistema Financeiro, período 20 anos

Percentual

Fonte: Banco Central do Brasil

O que pode dar errado daqui pra frente?

Nos livramos do "sofrimento" ou ainda tem mais pela frente? Pra onde vai o Bovespa? Decola ou volta para os 9.000 pontos em dólar?

Será que as nuvens pesadas se dissiparam ou ainda estão por perto?

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